Esse moço, que igual a tantos moços. Me chama de “preta”, me chama de “sua”. Mas só quando quer ou convém. Não pergunta se estou bem ou como tenho passado. Não quer saber o que me faz sorrir, o que me dá prazer... Ele só sabe dele. Ele só vive para ele.
Ahhh esse moço... que como tantos moços, gostam na verdade de outros moços.
Aline Rafaela Lelis
Se só a morte em si
Me fizer lembrar da vida
Que triste fim seria
Esta minha jornada.
Como trazer a vida
Para dentro de um coração
Que não crê em mais nada?
Não sinto pulsar
Uma gota de esperança
Em minhas veias.
Meus olhos pedem socorro
Meu sono é um aviso
De que estou cansada demais
Para lutar sozinha
Queria que viesse até mim
E me dissesse:
"tudo vai ficar bem
Você não está sozinha
Vamos até a cozinha
Vou te fazer um jantar,
Não se preocupe minha querida!
Que eu não solto da tua mão
até você voltar a caminhar"
Se só a morte em si
Me fizer lembrar da vida
A morte simbólica
O que significa?
Que devo reagir antes da morte em si chegar?
Que devo viver e sentir vida pulsar?
O que eu mais quero é acordar
Acordar da letargia, eu juro!
Só não sei por onde começar,
E também estou sem forças!
Aline Rafaela Lelis
Há muito tempo deixei de ser poesia. Fui virando prosa, desencadeando prosas e quando vi, não sabia mais traduzir as coisas simples. Viajei para uma bela ilha, onde toda tarde ia ver o por do sol na praia. Ouvia o chiar das ondas, sentia as ondas tocarem meus pés, avistava o fim da tarde lilás, ouvia as crianças brincarem e suas gargalhadas inocentes. Assistia aos surfistas e observava como cada pessoa contemplava o mar. Mas nada pude dizer a respeito. Aquele tempo que vivi naquela ilha, eu não estava em estado de poesia e todas as coisas bonitas que vi e vivi, não foram absorvidas por mim na simplicidade que acontecia, naquela época, meu estado anti-poesia não permitia. Mas o bom é que como eu vou contar hoje as histórias passadas do tempo da ilha é que importa, e meu estado hoje, graças à Deus me transporta a mesma ilha, porém com um olhar que é muito mais poesia e menos prosa.
Aline Rafaela
Somos sujeitos com tantos desejos. Dos mais sublimes aos mais vis. Meus desejos são nobres (a maioria das vezes). Desejo de viagem, de conhecer o mundo. Ásia, África, América do Norte. Também desejo ser doutora, atriz, modelo e cantora. De vez em quando minha intenção de bondade entra em colapso. Questiono Deus, me falta a fé, chuto o balde. Mas são momentos apenas, passam e em instantes eu me reformulo novamente e tomo o caminho estreito, a estrada direita. Com o passar dos anos vou compreendendo que a vida é sofrimento e, aprender a viver é aprender a sofrer. Só quando aprendemos a lidar com a dor é que alcançamos a felicidade.
Tanto desejo às vezes causa desgaste. A avidez para vivê-los é a causa das nossas ansiedades. Queremos que tudo aconteça agora, casa, carro, filhos, casamento, família, sucesso e dinheiro. O reino da terra faz a gente criar muitas ilusões, faz a gente se perder de nós mesmos, distanciar dos nossos propósitos mais elevados, nos faz perder a trilha do bem para entrar na corrida dos vícios mais vulgares. Uma corrida maluca para o inferno. Inferno que fazemos em nós mesmos e à nossa volta.
Aline Rafaela Lelis
Preste atenção a seus pensamentos. Eles vão se tornar atos. Preste atenção a seus atos. Eles vão se tornar hábitos. Preste atenção a seus hábitos. Eles vão moldar seu caráter. Preste atenção a seu caráter. Ele construirá seu destino.
Margaret Thatcher (via stoalin)
Basicamente, todos nós nascemos para aprender a amar - não romanticamente, mas incondicionalmente. Se nos colocarmos nessa perspectiva, nossa felicidade deixará de depender dos resultados imediatos valorizados pela cultura em que vivemos e passará a ser construída pelo nosso crescimento como pessoas espirituais.
PRAAGH, James Van. O despertar da intuição: desenvolvendo seu sexto sentido. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. p. 149
Moço, você que tens a elegância de um deus negro e um olhar que só se revela no escuro, como bicho selvagem, penetra-me a alma sem medo do que vai encontrar. Há algum tempo eu andei fugindo, e minhas fugas me fizeram viajar longe, em pensamentos estranhos e irreconhecíveis. Moço, eu andei hipnotizada, com a cabeça zonza e pesada. Eu o via na escada todos os dias me olhando solitário, mas entre nós havia uma barreira invisível. Moço, você foi me ver, ainda fazia pouco que havia retornado ao meu mundo, e nos aproximamos receosos. Mas moço eu agora estou quase virando estrela e uma nova luz sobre mim irá pairar. Mas sabe-se lá o que o futuro nos reserva. Sabe-se lá o que nos espera.
Aline Rafaela
Oração
Enquanto aguardava o ônibus na guarita, percebi que estava no meio de uma estrada e que dois homens me observavam invasivos e sedentos. Talvez esperando qualquer “sinal” meu que eles pudessem interpretar “essa aí tá pedindo”. Eu comecei a ficar nervosa e angustiada. Os dois me olhavam e conversavam entre si. Enquanto isso, os motoristas que passavam em suas carretas gritavam qualquer coisa, “cantada?”. Foi então que comecei a pensar em todas as mulheres que talvez, naquele momento, estivessem passando pela mesma situação, com medo, sentido-me culpada antecipadamente por um crime que sequer havia ocorrido. Eu pensava: “Se aqueles homens que me observam há um metro de distância ou qualquer homem que parasse seu automóvel agora me violentasse, eu seria a culpada, afinal, por que não escolhi outro lugar para pegar o ônibus? Ou por que não resolvi meu problema antes, para não precisar estar aqui sozinha? Ou ainda, por que estou de cropped na beira do asfalto?” Fiquei com vontade de chorar. Coração apertado. Daí comecei a pedir ajuda das deusas, fui evocando mulheres que admirava, pensando nas minhas ancestrais, e uma canção foi entoada. Senti meu corpo arrepiar e a presença de uma forte energia que acalentava meu desespero. De repente me senti forte. Me senti uma guerreira e juro que seria capaz de destruir qualquer homem que atentasse contra meu corpo. A canção entoada foi assim:
“Iansã me proteja de todo mal de todo homem.
Iansã me proteja de todo mal de todo homem”.
Entoei essa canção e marquei o ritmo com palmas. Senti no coração a força de uma legião de mulheres guerreiras. Não parei de cantar um segundo. Até que os dois homens que me observavam foram se distanciando, e em pouco tempo um homem uniformizado se aproximou. Ele era funcionário da empresa de transporte que eu aguardava, esperava o mesmo ônibus, chegou com serenidade nos olhos, não o vi como ameaça. Diminuí meu canto e passei a repeti-lo mentalmente. Meu ônibus chegou. Mandei uma mensagem para uma amiga sobre como estava me sentido. Ela respondeu: “Sinto muito que esteja se sentindo assim. Sinta-se abraçada. Você não está só!”
Aline Rafaela
O amor que eu acreditei ser um atalho, era um desvio planejado, obra do acaso, escolha imatura de uma juventude que se diz adulta, mas que quer mesmo é viver fantasias alimentadas na adolescência, sem nenhuma clemência pela razão sufocada no peso da existência não explicada e desacreditada. Atalhos e desvios fazem parte de uma só jornada, e não importa a idade, sempre haverá sensações de busca, de perda, abandono, lugar errado e vivências pela metade.
Aline Rafaela
Sentir > Dizer.